domingo, 7 de setembro de 2008

J.Paralímpicos: Os nossos mais válidos...

Deficiências

Deficiente” é aquele que não consegue modificar a sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.

Louco” é quem não procura ser feliz com o que possui.

Cego” é aquele que não vé seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

Surdo” é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.

Mudo” é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

Paralítico” é quem não consegue andar na direcção daqueles que precisam de sua ajuda.

Diabético” é quem não consegue ser doce.

Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:

Miseráveis” são todos que não conseguem falar com Deus.

Mário Quintana (1906-1994)


Já em diversos textos abordei o "desporto adaptado", as suas vicissitudes e as duplas ou múltiplas discriminações de que são alvo as pessoas ou, neste caso, os praticantes desportivos "mais válidos", fazendo uso da expressão utilizada por uma aluna italiana de Erasmus.
Acompanharei, como fiz com os Jogos Olímpicos, com ansiedade e muito entusiasmo, entre 6 e 17 de Setembro, a participação da delegação portuguesa em mais uma edição dos Jogos Paralímpicos e hoje, neste espaço, privilegio as palavras sábias e os depoimentos esclarecedores de alguns protagonistas dos nossos e das nossas melhores atletas. Por ora, palavras para quê com narrativas e imagens como as que se seguem?







16 comentários:

Anónimo disse...

Muitos parabéns a estes grandes atletas.

Lamenta-se é que nos corredores da Secretaria de Estado do Desporto e nas cadeiras da administração do IDP se defenda que no desporto adaptado não existem prestações de alta competição.

A alta competição só existe em atletas sem deficiência, dizem eles....Porque não o assumem publicamente?

Infante Santo

Anónimo disse...

Já há um autor Infante Santo e um Complexo da Lapa.Aguarda-se com expectativa que apareça um Complexo do Jamor.Este blog promete.

Anónimo disse...

Como sempre e na maioria das vezes a oportunidade do Tema escolhido não é para todos, mas para os que têm o “chip desportivo” adquirido através do percurso e das diversas experiências ao nível desportivo.. Uns melhores do que outros lá conseguem manter-se vivos e no que diz respeito aos desportistas com desvantagens ou incapacidades, mas com forte motivação intrínseca, continuam a viver sorrindo para as dificuldades e quando podem representar o seu País fazem-no com enorme orgulho, competência e satisfação pessoal.
A maior deficiência está dentro de nós, mas na embaixada presente nos Special Olimpcs elas não existem e na vitória e na derrota as convicções vêm reforçadas para uma vida que não foi nem será fácil. Parabéns à Maria José Carvalho pela oportunidade do tema, dando lugar e primazia os atletas, aqueles que se vão aproveitando neste miserável cenário de dirigentes e políticos desportivos, com entorses corporais e sociais muito mais preocupantes e só fazem mal ao movimento desportivo e seus objectivos de valorização do Ser Humano.
ADC

josé manuel constantino disse...

Independentemente da questão doutrinária sobre o paradigma da “alta competição” para cidadãos portadores de deficiências e das lógicas afirmativas das suas organizações o que toca no plano pessoal é a capacidade de superação destes atletas, o ser possível resultados desportivos muito acima dos cidadãos “dito normais”e a alegria que durante estas competições eles vivem e as respectivas famílias. Para quem a infelicidade bateu à porta estas experiências não têm preço Se o resultado desportivo surpreende, o sucesso e a superação pessoais emocionam .É quanto basta para lhes prestar a devida homenagem.

Anónimo disse...

Embora não esteja de acordo com a aplicação da palavra "Alta Competição" nos desporto para atletas com deficiências, face a natureza da lesão ou deficiência, o ponto de partida dos atletas é em primeiro lugar auto-superação mental e depois a pratica do desporto como um meio de prazer lúdico desportiva, mas nunca de sofrimento neuro emocional, tendo como objectivo bater recordes ou serem melhor que outros.
Desejo a todos aqueles que a infelicidade lhes bateu á porta, tiveram a capacidade e a vontade de saltar da cama, da cadeira de rodas e praticarem toda e qualquer actividade para a auto estima se manter em níveis positivos para os próprios e para os seus familiares amigos.
Tenho uma enorme admiração por todos vós....

Anónimo disse...

Força Bento Amaral!

http://www.campanha-fpdd-timberland.com/

Maria José Carvalho disse...

Ao anónimo de 8 de Setembro de 2008 15:58

Bom seria se se lembrassem também de outros nomes, não, naturalmente, para os autores, como este anónimo refere, mas para quem redige comentários (os autores deste blog já estão devidamente identificados). É muito redutor e centralista confinar Portugal sempre a Lisboa, há bem mais terra, mesmo para além mar...

Maria José Carvalho disse...

Não vislumbro qualquer problema, nem entendo que seja incorrecto designar a prática desportiva de pessoas deficientes como de alta competição ou de alto rendimento (cf. LBAFD). Se efectivamente esses atletas, independentemente da incapacidade ou desvantagem que tenham, treinam e competem visando o aperfeiçoamento constante e reiterado do rendimento desportivo, a superação e o atingir de resultados desportivos internacionais de relevo, de que prática desportiva estaremos então a falar?
As minhas grandes preocupações e indignações situam-se sim, nas condições altamente discriminatórias, a diversos níveis, a que estão sujeitos estes atletas, para além da nossa cultura mesquinha e paternalista de nos relacionarmos com estes "campeões e campeãs da vida e do desporto" na base "dos coitadinhos"...
É tão só a falta de respeito pela condição e dignidade humana que muito me entristece na nossa sociedade, mormente no tratamento de pessoas com deficiência.
Um cumprimento muito especial de reconhecimento profissional e pessoal ao nosso colega, treinador do Campeão Olímpico de Boccia, Luís Ferreira. Bem haja pelo trabalho fabuloso que tem feito nesta modalidade desportiva.

Unknown disse...

Em resposta ao anónimo que diz não estar de acordo com a aplicação da palavra "Alta Competição"

Ao contrário de si, eu estou completamente de acordo com a aplicação da "Alta Competição" para os paralímpicos. Não duvido que quando entram em competições nada tem a ver com superar-se a si próprios, entram nelas para vencer, com espírito competitivo, como qualquer atleta. A superação acontece todos os dias e a maior parte das vezes somos nós, os chamados "normais " que lhes dificultamos a vida, ao sermos tão pouco civilizados.
Só tenho pena que a nossa Televisão, dita de utilidade pública, passe somente cerca de 30 minutos de resumos dos jogos paralímpicos, por dia. Os cidadãos portadores de deficiência não são mais nem menos que nós. Todos temos as nossas dificuldades, umas menos outras mais difíceis de ultrapassar. Resumindo, a minha emoção ao ouvir o hino Nacional é a mesma sendo o Nelson Évora ou o João Paulo Fernandes em cima do pódio.
Para todos os atletas de "ALTA COMPETIÇÃO", que se encontram neste momento em Pequim, muito boa sorte

Anónimo disse...

(“Miseráveis” são todos que não conseguem falar com Deus.)

Foi assim com a Inquisição
Foi assim com os Espanhóis na América Latina (de Castela).
Desta postura e nesta época resultaram crimes hediondos.

Sei que este assunto não é o objectivo do texto de opinião, mas os escritos de Mário Quintana (autor que não conheço)utilizados incomodam-me na minhas convicções e liberdade de escolha. Faz-me lembrar dos tempos do Estado Novo (com quem a Igreja tinha uma relação privilegiada) em que o lider dizia: quem não é por mim é contra mim.

Maria José Carvalho disse...

Branco,

Obrigada pela sua opinião. Tal como o caro comentador, também eu senti desconforto com a frase do texto de Mario Quintana que explicitou no seu comentário. No entanto, o que tentei transmitir com este escrito não foi, nem de perto nem de longe, algo relacionado com a Igreja ou convicções religiosas. E o valioso conteúdo das frases anteriores à sublinhada mereceram-me e merecem-me muito aplauso.
Ainda pensei em retirar essa última frase, não o fiz para não desvirtuar o texto, mas talvez tivesse sido uma boa opção para não "perturbar as convições e liberdade de escolha" dos leitores. Contudo, creia, não foi essa a minha intenção.

Unknown disse...

Não creio que essa pequena frase deva melindrar ou incomodar seja quem for, é apenas um conjunto de palavras que podem e devem ser interpretadas de acordo com as convicções de cada um de nós. Não sou minimamente ligada à religião, mas não me senti de todo incomodada. Na minha opinião a palavra "Deus" neste contexto, pode ser entendida como Natureza ou até mesmo a nossa essência interior. E quantas vezes, precisamos de falar connosco próprios para ultrapassarmos os nossos obstáculos...
Caro colaborador, não será um bocadinho radical, a sua posição, relativamente a uma palavra?
Falemos do que interessa: TEMOS MAIS UMA MEDALHA GARANTIDA NOS PARALÍMPICOS.
Parabéns e continuem

Anónimo disse...

Percebi que não seria esse o sentido, percebi que as frases anteriores também são profundas e se separadas da frase final transmitiriam um misto de humanismo e poesia que o seu texto deixa transparecer.
Ficou o meu comentário e a sua resposta que agradeço.

Aproveito, e relativamente ao seu texto, para dizer que também tenho acompanhado quer a participação da delegação portuguesa, como os Jogos em geral. No entanto, para assistir em termos telisivos tenho que sintonizar os canais estrangeiros, porque os canais portugueses escusam-se hipocritamente de participar de neste momento glorioso

Anónimo disse...

“O incómodo de Deus e dos Homens”

De facto também já Bernardo Soares (outrem de Pessoa), no Livro do Desassossego, se sentia incomodado relativamente a Deus e aos Homens.

E nós também devemos incomodar-nos com os incómodos que pretendem ser totalitários.

A Liberdade é sobretudo a dos outros, aqueles que são livres de pensarem e sentirem como o querem.

Imposição unilateral e que implique autocensura de escrita e/ou pensamento é a negação da própria individualidade que está na essência da Liberdade (é ver o agora traduzido “Sobre a Liberdade”, finalmente para português nas Edições 70, de John Stuart Mill).

Não Maria José, escreva Deus, fale de Deus, e não censure a escrita própria e alheia. Isso não é Liberdade, é o “ novo fascismo cultural” que vai renascendo numa pátria que sempre estranhou a verdadeira Liberdade (durante os primeiros setenta anos do século vinte, pelo menos).

São de Bernardo Soares para sua e nossa lustrosíssima defesa as palavras seguintes:

“Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido – sem saber porquê. E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para sucedâneo de Deus.

Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente como eles, nem aceitei nunca a Humanidade.

Considerei que Deus sendo improvável, poderia ser; podendo pois dever ser adorado; mas que a Humanidade, sendo uma mera ideia biológica, e não significando mais que a espécie animal humana, não era mais digna de adoração do que qualquer outra espécie animal.

Este culto da Humanidade, com os seus ritos de Liberdade e Igualdade, pareceu-me sempre uma revivescência dos cultos antigos, em que animais eram como deuses, ou os deuses tinham cabeças de animais”.

E lembremo-nos dos grandes seres humanos que neste preciso momento estão no limite de tudo, vontade, esperança, motivação, crença, superação, em Pequim, representando-nos a todos numa digníssima actividade humana, quer creiamos quer descreiamos em Deus, no uso da nossa Liberdade plena.

Anónimo disse...

Que me desculpe a Professora Maria José Carvalho mas não resisto a fazer algumas observações aos comentários dos comentadores Isilda e J. Pinto Correia.
O comentário que fiz a sobre a frase utilizada do Mário Quintana fi-lo porque tinha de o fazer e que a autora num sentido de liberdade o publicou. E se esta frase me incomodou, parece que o meu comentário também foi incómodo embora não "batizei" ninguém nem foi meu sentido violentar alguém obrigando a partilhar das minhas descrenças religiosas.
Quanto à comentadora Isilda gostaria de referir que embora pequena é uma frase cheia de intencionalidade e traduz o sentimento que vem já dos tempos da Inquisição responsável pelo perecimento de quem se atrevia a questionar quer fosse na velha Europa, quer fossem os "infieis" árabes, ou os "selvagens" da América hoje Latina. Deixe também referir-lhe que a frase do Salazar de "quem não é por mim é contra mim" é uma simples e pequena frase, mas que também encerra um grande simbolismo de repressão, tortura e assassínio.É nas pequenas frases que estão as grandes frases...

Quanto aos comentários de J. Pinto Correia gostaria de referir se Bernardes Soares se sentia incomodado relativamente a Deus, eu na parte que me toca não me sinto incomodado, o que me incomoda é desrespeito pelos que pensam de outra forma. Também deixe que lhe diga se noutros tempos se usavam na intolerância frases simples de "infieis, "selvagens" mais tarde "judeus", hoje o léxico mudou ou não percebi verdadeiramente o sentido quando refere: Isso não é Liberdade, é o “ novo fascismo cultural”.

Entretanto os nossos atletas na China vão ganhando medalhas para um país que muitas vezes os maltrata.
Para eles e as suas equipas de trabalho os meus sinceros Parabéns

Anónimo disse...

Paraolímpicos? Paralímpicos? Ou Parolímpicos?
Se os "cidadãos adjectivados" de que falamos fazem desporto, o que é afinal o Desporto?
E se for, como em minha opinião é, então porque o Comité Olímpico Internacional não os integra num formato de Jogos Olímpicos em que não sejam descriminados com o "Para"? Será porque estragam o lucro? E o lucro e o negócio sobrepõem-se a quê no Desporto? E quem são os responsáveis cá e lá? Onde está a proposta do Comité Olímpico de portugal para que seja assim? O COI não é uma sociedade anónima com sede num país que não pertence à União Europeia para poder fugir às leis e aos impostos?