sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Deslize ou intencional?


O Presidente do Instituto Português do Desporto e da Juventude, Augusto Baganha, é, pelo que conheço, uma pessoa experiente e ponderada. Alguém que alia à sua experiência profissional um relevante passado como desportista. Antes de exercer funções no atual governo, foi designado pelo anterior para acompanhar junto do COP a preparação olímpica. Na atual equipa governativa do desporto, é, a larga distância, a pessoa melhor preparada. Para além destas qualidades é uma pessoa discreta e que não procura a exposição pública. Se possível até a evita. Pelo que as declarações que fez a propósito dos apoios do Estado aos judocas presentes nos Jogos Olímpicos são uma surpresa. Não tanto pela matéria de facto, mas pela oportunidade. E não correspondendo ao perfil de alguém que gosta da exposição pública, essa estranheza é ainda maior. Deslize ou ato intencional?
Os atletas, os treinadores, os dirigentes, as famílias, sofrem com o insucesso e a frustração dos resultados não alcançados. Derramar em cima desta situação o que o Estado vai fazer aos atletas é no mínimo revelador da mais elevada insensibilidade à situação. Há um momento para tudo. E não é o facto de o Estado ter protocolado certo tipo de compromissos com as federações desportivas, e que importa fazer respeitar, que o desobriga de ter sentimentos. Por muita razão que assista ao Presidente do IPDJ espera-se, como titular de um cargo público, ponderação entre os interesses do Estado e o estado daqueles que serviram Portugal. E não é o facto de os resultados alcançados não serem os expectáveis que se deve perder o sentido de respeito pela dignidade daqueles que estão a viver um momento difícil nas suas carreiras desportivas.
Ignoro se as declarações o foram por vontade própria ou por orientação superior. Ou apenas por um impulso perante o pedido de esclarecimento da comunicação social. Mas independentemente da motivação, as palavras e o contexto em que são proferidas – em plena realização dos Jogos Olímpicos - não atingem apenas os judocas cuja competição terminou, mas todos os atletas, os que já competiram e os que ainda o vão fazer.
Governar é também saber usar as palavras. O exercício de funções públicas exige sempre sobriedade. E adequada ponderação. Lançar, neste momento, o tema dos apoios do Estado é escolher a pior altura para o fazer. Terminados os Jogos e feita a respetiva avaliação há tempo para se adotar os procedimentos que se considerem adequados. Agora é hora de nos concentrarmos na competição e procurar os melhores resultados. Distrair as atenções para outras questões é correr o risco do incendiar o debate público e, com isso, aumentar potencialmente as probabilidades de conflito. O desporto perde e perdendo o desporto não sei o que ganha o Estado com isso.

19 comentários:

Anónimo disse...

Temos de concordar que o 'timing' não foi o ideal mas o Comandante preparou os paus da fogueira com a " missão mais bem preparada de sempre".

Revelar que o clausulado dos contratos leva à extinção da bolsa é uma realidade.

O que vai ser grave é que os apoios de AR por parte das federações não pode ser cumprido porque o IPDJ não isponibiliza verbas às federações.

São mais de 30 em incumprimento fiscal por falta de apoio...

Luís Leite disse...

Julgo que nada acontece por acaso.
A declaração, sendo verdadeira mas envenenada, pretende, preparando a opinião pública para a provável ausência de medalhas, mostrar que este Governo é castigador para quem não cumpre.
Pretende-se agradar à opinião pública.
Curiosamente, o Estado não paga às Federações desde Março, não cumprindo assim as suas obrigações atempadamente.
Mas o Estado, supostamente, não é punido.

Anónimo disse...

Completamente de acordo com MJC e com o anónimo das 11.24.

E que tal acabarem com os apoios de vez para ficarem só as modalidades que se conseguem manter a si próprias???

E que tal acabarem com as despesas superficiais - por que continua Telma Monteiro em Londres??? Apoio à comitiva??? Para isso levavam um psicólogo do desporto! Levaram???

E que tal acabarem com as almoçaradas e jantaradas???

Anónimo disse...

Jmc

Esse senhor que hoje é presidente dessa instituição que hoje em dia chamam de instituto do desporto e juventude, desde Julho de 2011 que sensibilidade é palavra que nao existe no vocabulário dele ou então nunca existiu e só foi revelada no momento que chegou a presidente dessa mexilana que se tornou esse instituto .
Será que esse comentários foram feitos por ele ou mais uma vez pela sua adorada assessora?

Zé tu és o senhor os outros são os são os caras.

O desporto precisa de ti.

Anónimo disse...

E, de acordo com a Lei, as federações que estão em incumprimento fiscal não podem receber verbas do estado...!!!
Mas o que torna o assunto verdadeiramente 'giro' é o facto de ser público que existem federações que não pagam os vencimentos aos colaboradores, há 3 e mais meses, e ainda assim 'devem ao estado' os montantes retidos em sede de IRS dos vencimentos que não liquidaram...

Luís Leite disse...

O Sr. Comandante já deve ter tido o primeiro ataque de nervos.
Alguém deve estar de prevenção a tapar-lhe a boca.
Talvez esteja com o acompanhamento psicológico que falta à Missão Olímpica.
Esperemos pelas cenas dos próximos capítulos...

antonio cunha disse...

Bom dia. Fiquei surpreendido, pela negativa, com a publicidade dada às afirmações do Presidente do IPDJ a propósito dos maus resultados verificados na disciplina do JUDO nos Jogos de Londres. Os jogos ainda decorrem, os resultados são globais e não por disciplina A ou B, existe o Presidente do COP Comandante Vicente Moura que tem estado calado e muito bem.... e eis que ontem foi noticia de abertura dos telejornais a retirada do direitos adquiridos pelos atletas ao longo de anos e por mérito desportivo.... afirmações feitas pelo Presidente do IDP.
Acho que tratando-se e como diz muito bem o José Constantino autor destes crónica de um quadro superior da Administração publica desportista dos melhores na modalidade que praticou, Basquetebol, o que o levou a precipitar sem necessidade comentários fora do tempo, isto é falar em tempo desajustado….
A maior frustração de insucesso desportivo é o próprio atleta que a sofre, e o papel do politico enquanto no exercício das suas funções é ter bom senso e na duvida nada dizer e avaliar concluídos os jogos e perante Presidente do COP e o chefe da Delegação os resultados finais da nossa delegação.
Subscrevo os comentários do JMC. Saber estar e falar adequadamente é um dos requisitos para quem foi convidado para o exercício de funções governamentais.. ..e mais não digo, por agora!
ac

Anónimo disse...

"Sempre se pode fazer melhor".....

Essa é uma expressão que ouvimos várias vezes, não só no desporto mas em várias áreas. Ainda não acabaram os Jogos Olímpicos e é certo que ainda podemos conquistar uma medalha, mas muitos dirão que se podia fazer melhor. Não gosto de ver os jornais, as televisões, as rádios,o "público" e os politicos, de uma forma geral a criticar a nossa prestação nos Jogos. Os atletas são o alvo das nossas frustrações, temos de nos lembrar que estes não têm qualquer tipo de visibilidade durante os 1.460 dias que levam a preparar os JO. Estar ali é uma enorme vitória. Como ex-atleta, o não ir a uns JO foi a minha maior frustração. Podemos fazer sempre melhor e talvez nos falte um pouco mais de ambição mas devemos reflectir primeiro que país somos e que cultura desportiva é a nossa?
RC

Anónimo disse...

Antes do jogo das culpas alheias há que fazer algo.
Porque a «competitividade» é uma Opção.
É uma Decisão tomada conscientemente por determinada «política de desporto», num determinado Contexto social e histórico.
É um facto social e cultural, para além de ter evidentemente razões fisiológicas e biológicas (motrizes).
Acresce que a «competitividade» também é uma «opção individual», e, simultaneamente, uma «opção coletiva» (i.e, «social»).
Cada sociedade e cada indivíduo, em cada tempo/espaço histórico, optam por definir os limites (i.e, o intervalo entre os limites inferior e superior) socialmente aceites para as relações de confronto e de competividade (quer no interior do grupo social a que pertence, quer perante os Outros).
Os países ditos anglo-saxónicos, e algumas Culturas do Oriente «maximizam o limite superior dessa relação de competição». Outras Culturas restringem esse limite, e, até nalguns casos, inibem as relações de confronto e de agressividade (através dos cuidados maternos em contextos onde o Estado inexiste, ou através do sistema educativo).
Quando uma determinada «Política de Desporto» desvaloriza ou diminui esse «uso social do confronto e da competição» (por exemplo, privilegiando na Escola e no Financiamento o “Higienismo”, ou os pretensos «benefícios do desporto para a Saúde») isso repercute-se a jusante nos Resultados. Repito: isso, mais tarde ou mais cedo, repercute-se nos Resultados.
Portanto não é razoável começarem a criticar-se uns aos outros.
Pois não é de agora, destes Jogos, que esta opção que refiro nasceu. Já vinha a dar sinais em Jogos anteriores. Provavelmente, é uma opção que vem de uma certa elite intelectual que tomou conta dos destinos da Formação nas universidades; e também, de uma certa “utopia do Bem-estar, do Consumo, e do Lazer” que começou, sobretudo na Europa, com o «conceito de Desenvolvimento» no início do séc. XX (por oposição à ideologia do “Progresso”, e do “Evolucionismo”; isto é, a tentativa de substituir os conceitos de “mais” e “inferior/superior” pelos conceitos “transformistas”), sobretudo após a dita “2.ª Guerra Mundial”.
É chegado o momento de, coletivamente, e com humildade, repensar o «Modelo de Desenvolvimento do Desporto Português» como referi na Folha A4. É para isso que esse meu contributo serve. Em vez de se porem apressadamente a atacarem-se uns aos outros. Essa Folha A4 serve sobretudo para repensar a Mudança Organizacional e o respetivo Planeamento Estratégico.
Com ponderação, bom senso, e rigor.
Haverá essa coragem? Será possível canalizar essa agressividade, de se atirarem as culpas para os outros, num trabalho coletivo, produtivo, e com frutos a prazo?

Talvez

Anónimo disse...

OH! Pedro Manuel trata do colecionismo, enquanto não tens um Museu, e deixa- te de quereres falar do que não sabes……..e se queres propaganda à tua folha A4 porque não crias um blogue e aí defendes o que te interessa??

Anónimo disse...

Calma. Tanta agressividade adolescente para quê?
Ouve José, com calma, o que nele se diz:
"Cada um de nós – e todos aqueles que connosco entenderem partilhar o seu pensamento e expressão – tem o seu olhar sobre o desporto. Um mirar que nos diferencia e que, certamente, divergirá de outros olhares sobre o desporto, públicos ou privados, institucionais ou individuais. Não são olhares que procuram estabelecer certezas, nem que se arrogam da capacidade de dominar toda a montanha. São tão-somente, alguns olhares sobre o desporto."

Talvez

Anónimo disse...

Preocupado estou eu mas é em saber se o comandante tambem vai ficar sem os 2.500 euros que recebe por mês ...
E se o secretário geral do COP vai ficar sem os 1.750 que aufere e se o tesoureiro sem os 1.250...
Não se preocupem só com os atletas !!!

Luís Leite disse...

Concordando com o anónimo das 23.37h, não podemos perder os episódios que se seguem nos bastidores desta odisseia olímpica, certamente hilariantes.

Luís Leite disse...

Quanto à questão das bolsas olímpicas, obviamente terminam para TODOS os atletas quando acabam os Jogos Olímpicos.
Na atual conjuntura, duvido que venham a ser atribuídas verbas para preparação olímpica por Despacho governamental nos meses que se seguem.

Anónimo disse...

O problema, se me permite, não é tanto o que o COP gasta ou não gasta. O problema é se o Estado é quem financia isso ou não. Razão pela qual no Modelo que propus a ação do Estado deixa de ser «dispersa» (ver o Quadro das entidades da Administração Pública Desportiva) para ser «concentrada» (pergunte-se, na prática, durante estes anos todos, os IDP's mandam efetivamente em quê? e em quanto? dessa ação do Estado?). E por outro lado, o Estado deixava de ser o financiador direto, e passava a ser um contribuinte para a Agência do Desenvolvimento do Desporto (entidade não-Estatal).
Apresentei a Folha A4 só agora, porque o Grupo que já está a trabalhar há seis meses com base nessa minha proposta achou que este era o momento adequado.
Resolvia-se esse problema do COP, e muitos mais, tal como referi nas premissas da Folha A4 que anteriormente publicitei.
O momento para preparar a Mudança é, neste contexto de crise e de falta de resultados, o mais adequado, e deve ser encarado como uma Oportunidade e não como um momento para se fazerem críticas sem quaisquer consequências práticas.

Talvez

Anónimo disse...

Sendo publico que existem presidentes federativos profissionais a ganharem bem mais que o PR, também lhes retiram a 'bolsa'?
E aos treinadores que ganham metade da bolsa dos atletas, fora o vencimento?
E aos directores técnicos nacionais vai suceder o quê? Ganham o seu vencimento como requisitados e mais o que pagam as federações...Para nos contratos a tutela colocar tectos máximos de 45.000 e 50.000 anuais, nem fazemos ideia do que ganham...
Não massacrem mais os atletas !!!

Anónimo disse...

Pelo andar da carruagem vai desaparecendo tudo, e os Ministros Adjuntos do 1.º Ministro que tinham o bolo do desporto, também desaparecem do mapa, ou melhor, os Ministros ficam, mas sem o desporto.

Anónimo disse...

As respostas à pergunta

Deslize ou intencional ?

1 - Deslize intencional
2 - Intenção deslizante
3 - Descuido intencional
4 - Descuido deslizante

joão boaventura disse...

Caro Zé

À tua pergunta:

“O desporto perde e perdendo o desporto não sei o que ganha o Estado com isso.”

Tens aqui a resposta no “Negócios online”, segundo o qual, a Prata na canoagem rende 22.500 euros e bolsa anual até 2016, donde, porque há muitos desportos:

“O desporto ganha e ganhando o desporto também aqui o Estado ganha com isso”.

Veja tudo como um negócio. O Estado paga x por cada medalha de ouro, y por cada de prata, e z por cada de bronze, para alimentar a produção, no âmbito profissional, que é o único que ao Estado interessa.

Um abraço