terça-feira, 28 de agosto de 2012

O efeito limite

É comum à generalidade dos países discutir os resultados que cada nação alcança na edição quadrienal dos Jogos Olímpicos. E multiplicarem-se os estudos e os critérios de avaliação obedecendo aos mais diversos indicadores. E o tema, como é próprio dos temas de elevado grau de mediatização, suscita a escrita e o debate de imensas pessoas. Umas preparadas, outras menos preparadas e outras claramente impreparadas. Mas, repito, isso não é exclusivo desta temática, mas algo comum a temas que num determinado momento marcam as agendas mediáticas. Sabemos também que este frenesim é passageiro e que rapidamente o assunto regressa a águas mornas ocupado que seja por temas e debates de outra natureza.
Portugal não escapa a este afã e todos quantos estão ligados ao desporto são sensíveis aos resultados que os atletas nacionais alcançam. E aos debates e polémicas suscitadas a esse propósito. É natural que sobre o ocorrido surjam várias leituras. Uma dessas leituras remete até para um simplismo explicativo: qualquer êxito alcançado seria mérito dos atletas e qualquer insucesso culpa da política desportiva, do Governo, dos dirigentes desportivos ou de qualquer outra causa que prejudica o trabalho de participação e representação desportivas dos atletas. Não quero polemizar sobre este assunto mas chamar atenção que a matéria pedirá uma outra dimensão para a reflexão.
O desporto de alto rendimento ( e por arrasto uma preparação olímpica) são atividades de custos muitos elevados. Operando num contexto internacional a competitividade atingida pelo alto rendimento é muito determinada pelas economias dos respetivos países e o que elas libertam para a respetiva preparação desportiva. Não existe determinismo entre o valor da competitividade das nações e a sua riqueza ou poderio económico mas é um fator condicionante. A consulta a qualquer relatório sobre as despesas dos Estados (publicas e/ou privadas) comprova-o. E permite verificar que há países que gastam com uma modalidade o que outros gastam com toda a preparação olímpica. O que Portugal gasta é comparativamente a outros uma ninharia. Mas é o que a economia e a riqueza do pais e as opções políticas possibilitam. Pelo que o centro da reflexão se deveria centrar mais em saber se pode ou não o desporto português progredir e alcançar um outro plano de excelência-nacional e internacional- compatível com os recursos que o país pode dispensar. E nesse caso se as limitações existentes esgotaram o potencial de crescimento desportivo do país. Ou, pelo contrário, ainda é possível, com o mesmo nível de recursos fazer melhor.
O que temos dito e escrito sobre a matéria é que o potencial de crescimento do desporto nacional não atingiu o seu limite. Porque existem desperdícios que podem ser evitados. Se houver melhor concentração de meios. Mas isso obrigaria ao preenchimento de três quesitos: a definição de prioridades em matéria de política desportiva e de competitividade externa; a concentração prioritária de meios à volta desses objetivos; a definição do efeito limite sobre o nível desportivo do país imposto pela sua realidade concreta em matéria de recursos disponíveis (económicos,financeiros,oragnizacionais,demográficos,culturais,etc.).
A definição anterior não dispensa uma outra reflexão: a de saber se com todas as limitações existentes os resultados não poderiam ser outros se o modelo organizacional e de funcionamento fosse distinto. Alguns participantes neste espaço de opinião têm defendido essa solução. O assunto merece reflexão. A obsessão normativista que tem modelado o sistema desportivo nacional criou mecanismos de relacionamento entre o Estado e os entes privados e associativos que bloqueiam muita iniciativa. A cultura do Estado no modo como monitoriza os apoios que concede estrangula e complica. E a necessária sinergia entre o governo, o poder local e o movimento associativo no sentido de uma atuação estratégica e concertada em matéria de políticas de promoção e desenvolvimento desportivo está longe de ser devidamente aproveitada. A atuação sinérgica, ou melhor a sua ausência é um dos males crónicos do sistema desportivo português.Com recursos escassos, os ganhos só podem vir do lado das poupanças. Limitando o que sendo oneroso não acrescenta valor. E maximizando as economias de escala que a colaboração sinérgica permite obter.



27 comentários:

Luís Leite disse...

Os resultados de topo (medalhas) obtidos pelos países nos Jogos Olímpicos dependem exclusivamente da capacidade instalada de descoberta e acompanhamento de talentos excecionais.
Ao contrário do que se pensa, não depende do desenvolvimento desportivo global nem da massificação da prática desportiva.
Os países pequenos e médios que pretendem ganhar medalhas tratam de apostar em desportistas isolados de uma determinada modalidade ou em nichos de especialização relacionados com questões relacionadas com propensão genética da população e tradição e interesse cultural por determinadas práticas.
É o que acontece com os países caribenhos na velocidade (Atletismo) com os países leste africanos (Atletismo) com os países à volta do Mar Negro (Halterofilismo), com os países asiáticos (Ténis-de-Mesa e Badminton) etc.
Um país até pode ter uma prática desportiva generalizada e não conseguir ganhar medalhas olímpicas se não forem descobertos e devidamente preparados os talentos excecionais.

josé manuel constantino disse...

Caro Luis Leite

Apenas duas notas:
1.O haver mais pessoas a praticar desporto e mais modalidades a serem praticadas(massificação da prática desportiva )ou se quiser maior desenvolvimento desportivo global não garante automaticamente melhoria da excelência de resultados em matéria de competitiva de externa. Mas cria condições mais favoráveis a que eles ocorram porque facilita a deteção, seleção e orientação de talentos;
2.Se reler o meu texto verificará que defendo a definição de prioridades em matéria de política desportiva e de competitividade externa. E foi precisamente para responder a essa preocupação que desde 2003 existe na administração publica desportiva um estudo (realizado por técnicos nacionais coordenados Jorge Araújo e Teotónio Lima) que procura identificar os nichos de competitividade externa do desporto nacional atendendo a condicionantes diversas(económicos,financeiros,oragnizacioanis,demográficos,culturais).
Grato.

Anónimo disse...

Pequeninos e coitadinhos como escreve o COP e o CND, agora temos que 'este frenesim é passageiro' e 'não quero polemizar', 'os custos são muito elevados', 'Mas é o que a economia e a riqueza do pais e as opções políticas possibilitam', 'O assunto merece reflexão', concluindo 'A atuação sinérgica, ou melhor a sua ausência é um dos males crónicos do sistema desportivo português. Com recursos escassos, os ganhos só podem vir do lado das poupanças. Limitando o que sendo oneroso não acrescenta valor. E maximizando as economias de escala que a colaboração sinérgica permite obter'.

Luís Leite disse...

Estou certo de que a esmagadora maioria dos políticos não tem a menor ideia sobre estes assuntos e, em caso de dúvida sistemática, corre atrás do politicamente correto, que são as travessias das pontes sobre o Tejo e as caminhadas municipais.
Numa palavra, eleitoralismo.
São a ignorância, o facilitismo generalizado e o politicamente correto que nos dificultam seriamente a conquista de medalhas olímpicas.

Anónimo disse...

Na realidade, José Manuel Constantino fala em alhos e o Luís Leite, como já é habitual, responde com bugalhos. Recomendo-lhe uma leitura mais atenta. Se for capaz.

Anónimo disse...

Constantino apresenta uma visão mecanicista da questão. A questão desportiva em Portugal, como muitas outras, é tão só cultural. Textos como o de Olímpio Bento, ministros como Miguel Relvas e comentários como o de Luis Leite, explicam o que acabámos de referir. Entretanto, os portugueses do Portugal profundo, como referia Olímpio Bento, têm de ter paciência até que novos tempos possam surgir. 

Anónimo disse...

Luis Leite devia fazer uma leitura cuidade entre o seu primeiro comentário e o seu segundo comentário e tentar explicar-nos o seu conceito de coerência de discurso.
"A esmagadora maioria dos políticos não tem a menor ideia sobre estes assuntos..." diz Luís Leite.
Caro Arquitecto, o senhor também não está a ajudar nada para resolver a questão.
Porque não se dedica verdadeiramente à arquitectura?

Anónimo disse...

O Dr. Constantino ao levantar a questão do desenvolvimento do desporto abre uma discussão muito útil se quisermos resolver o problema da falta de organização do desporto em Portugal. Note-se que sem uma educação física eficiente o país não vai lá. A dificultar ainda mais a situação está o Ministro da Educação que anda a perseguir a educação física. Reduziu as horas e desvalorizou-a ao tirá-la do processo de avaliação dos alunos. Por isso, estou de cordo com esta posição do Dr. Constantino. É necessário valorizar a educação física.

Luís Leite disse...

Anónimo das 11.29h

O que é que tem a Arquitetura a ver com este assunto?
Tenho um curriculum e uma experiência na área do Desporto que me permitem fazer determinadas afirmações com conhecimento de causa.

Quanto a si, que é anónimo não sei se sabe muito ou pouco.

Não existe qualquer contradição entre os meus dois comentários anteriores.
Sou a favor da Educação Física e do Desporto Escolar, embora a sua eficácia deixe muito a desejar, mesmo do ponto de vista formativo.
Apenas mantenho que não existe qualquer relação entre a prática informal massificada de Desporto e a conquista de medalhas olímpicas.

Anónimo disse...

Sr. Arq. Luís Leite
As razões porque eu sou anónimo são precisamente as contrárias às que o levam a identificar-se. O Sr. Arq. quer aparecer, eu não. Ambas são legítimas porque permitidas pelo Blogue.
Entretanto, pedia-lhe para dar um pouco mais de atenção à sua coerência. Como é que pode dizer que é "a favor da Educação Física e do Desporto Escolar" e, depois, afirmar que "a sua eficácia deixe muito a desejar". Pergunto-lhe: - como é que o Sr. Arq. pode ser a favor de uma coisa cuja eficácia considera deixar muito a desejar? É preciso muito boa vontade. E deixam a desejar "mesmo do ponto de vista formativo"! É obra!
Por outro lado, o Sr. Arq. pode manter "que não existe qualquer relação entre a prática informal massificada de desporto e a conquista de medalhas olímpicas." Pode manter. Uma afirmação deste tipo feita nos termos em que a faz não adianta nem atrasa. Não significa nada. O problema é que o Sr. Arq. pretendeu rebater o texto do Dr. Constantino e misturou alhos com bugalhos. Porquê? Porque a sua formação desportiva não lhe permite perceber a verdadeira dimensão dos problemas para além do discurso popular. Tal como muitos políticos, o Sr. Arq. diz umas coisas. Tem todo o direito de o fazer, até é bom que o faça, mas aquilo que diz não vai além do “dizer umas coisas”.
Repare que eu também tenho muitas opiniões sobre arquitectura. Quando fiz o serviço militar até projectei e, depois, construi uns edifícios. Já decorei apartamentos e vi na televisão uns documentários sobre o assunto. Tenho muitos arquitectos amigos. Apesar disso, não me atrevo a ter uma opinião do que deve ser a arquitectura. Nunca estudei o assunto, não sei quem são os autores fundamentais nacionais e estrangeiros, jamais escrevi um texto devidamente fundamentado sobre o tema. Por isso, fico-me por uns comentários pessoais sobre arquitectos e arquitectura. Nada mais. Mas, nas minhas simples opiniões, procuro ser coerente. A começar por reconhecer que pouco ou nada sei sobre o assunto.

Luís Leite disse...

Anónimo das 14.48h

1) Eu não quero aparecer, porque não tenho quaisquer aspirações a lugares políticos ou federados. Simplesmente não me escondo, como você.
Quem se esconde é que tem medo de que algo lhe possa acontecer.
Tem interesses pessoais.
Eu não tenho nenhuns.
Se ler o meu curriculum, verificará que o que tinha para fazer no Desporto já fiz.
E não quero fazer mais nada.
Apenas partilhar a minha experiência.

2) Fui professor durante 3 décadas. Acompanhei a evolução da Escola Pública em 11 escolas básicas e secundárias.
Espero neste momento pela reforma antecipada, porque discordo totalmente daquilo em se foi transformando a Escola Pública.
Um depósito de jovens em que o facilitismo e a indisciplina atingiram níveis impensáveis.

3) Sempre defendi e continuo a defender a Educação Física e o Desporto na Escola.
São coisas diferentes.
Deviam funcionar e funcionar melhor, muito melhor.
Mas reparo que muitos dos professores de Educação Física não se interessam por Desporto.
Não há aqui qualquer contradição no meu discurso.

4) Você não aceita que alguém possa perceber de outros assuntos para além da sua formação inicial. Pois eu digo-lhe, sem qualquer modéstia, que, por educação familiar, paixão e enquanto autodidata, percebo de várias áreas de atividade o suficiente para explicar muita coisa a muitos Doutores ou Mestres de aviário, saídos do pós-PREC.

5) Além disso sou Arquiteto inscrito na Ordem e Urbanista e não vejo qual o problema de o ser.
E essa formação não me saíu na farinha Amparo.

6) Se você projetou e construiu edifícios sem perceber nada do assunto, o problema é seu.

Anónimo disse...

Um teste de conhecimentos para o Arq. Luís Leite:
1ª Pergunta:
Leia com atenção o texto que se segue:
“Para que cem se entreguem à cultura física é necessário que cinquenta pratiquem desporto. Para que cinquenta pratiquem desporto, é necessário que vinte se especializem. Para que vinte se especializem, é necessário que cinco sejam capazes de proezas espantosas.”
Quem foi o seu autor. Em que circunstâncias e em que ano a escreveu. Explique sucintamente a ideia expressa pelo autor. Enquadre-a do ponto de vista histórico-cultural. Faça um juízo de valor sobre a mesma. Indique a referência bibliográfica mais apropriada.
Tem sete minutos para responder.

Anónimo disse...

A tese «Concentração» que propus na Folha A é apenas uma de três hipóteses possíveis. E nada a priori garante que seja melhor do que as outras duas, a saber: i) deixar a dispersão atual; ii) aumentar ainda mais essa fragmentação. Mas se o ponto-de-partida for essa tese, isto é: «Concentração» [maior do que] «Dispersão [igual a] «Mais eficiência na ação do Estado» [e] «Mais eficiência na utilização dos recursos e ação do Estado], então, a discussão tem obrigatoriamente que incluir o modo de executar essa «Concentração». Evidentemente que a questão da “sinergia” (J.M.Constantino) se coloca, mas coloca-se independentemente do ponto de partida ser o da «concentração» ou o da «dispersão».
Voltando ao modo como se executaria essa «Concentração», seria talvez interessante perspetivar como se faria a «acomodação do INATEL», sobretudo depois da deriva Fundacional em que o colocaram. Não quero crer que por detrás dessa decisão esteja um negócio imobiliário a longo prazo (por exemplo, terrenos do dito Estádio 1.º de Maio). No qual convinha que os gestores fizessem tanta dívida que os credores (qual o banco que permite essa acumulação atual de dívidas?), com a desculpa de não lesarem os contribuintes, acabariam por fazer o objetivo-primeiro que era receber em dação esse terreno, evidentemente depois de a memória dos potenciais defensores já tivesse fenecido. Recuso-me a pensar nesse cenário. Apenas fico curioso sobre como será o percurso futuro dessa Fundação, e as peripécias de afastamento/aproximação que esse recurso do Estado nos trará no futuro. Razão pela qual seria interessante pensar em como se poderia reverter essa deriva Fundacional do INATEL em benefício do tal «modelo mais concentrado» de gestão do Desporto pelo Estado.
Depois, igualmente na busca do modo de fazer melhor essa tese da convergência, também é curioso verificar que os responsáveis pelas sucessivas governações do Desporto nunca tenham dado a atenção que deviam, e até pedido a ajuda, a uma das instituições portuguesas de «excelência» na Educação Física e Desporto. Refiro-me evidentemente à «Instituição Militar». Talvez todos tivessem (clubes, federações, «escola», entidades da administração pública desportiva, etc.) muito a aprender.
Sobre a questão «cultural», que foi referida pelo Anónimo 28Ago2012 10:23, o problema é de facto mais difícil. Talvez essa mudança cultural pudesse começar agora, exatamente neste sítio, com as Pessoas que somos neste momento. Por exemplo, ser-se capaz de ajudar este Governo, e as Pessoas que foram escolhidas por ele para governarem o Desporto. Sim, isso mesmo. Ser-se capaz de ajudar todos os Governos e todas as Pessoas por eles escolhidas desde que eleitas democraticamente, mesmo que discordemos.
«Mudança cultural» seria, talvez, começar por fazer esta coisa. Que está ao alcance de todos, aqui, agora, hoje. E não uma coisa que não sabemos muito bem quando irá começar. Todas as prometidas «mudanças culturais» deixam para amanhã o que defendem começar hoje. Essa promessa convém à «conversa» mas não à «concretização». Uma «mudança cultural» é sempre um comportamento adjetivado de «politicamente incorreto», sobretudo pelos que mantêm o «atual sistema cultural que dizem querer mudar».
Essa seria, de facto, uma «mudança cultural». Aliás, uma mudança não muito difícil de executar para quem já praticou Desporto. Na equipa em que jogava quando fiz desporto federado num dos principais clubes portugueses, no qual disputámos várias competições nacionais e internacionais, havia colegas desde a extrema-esquerda à extrema-direita, mas eramos uma Equipa. No desporto aprendemos a ser uma equipa para além das diferenças que continuamos a defender acerrimamente a nível pessoal. Por isso, por causa desse ensinamento ético e pedagógico que o Desporto nos ensina pela Vida fora, para nós certamente seria mais fácil essa dita «mudança cultural».
Talvez

Anónimo disse...

Sr. Arq. Luís Leite,
Vamos manter a discussão dentro de um nível civilizado, sem ofensas pessoais. As regras de participação do Blogue não são nossas são do responsável do Blogue. Se o Sr. Arq. não está de acordo, seja coerente e deixe de participar.
Se na sua liberdade decide participar, também lhe digo que, em coerência, não vale a pena invocar medos ou acusar os Doutores e os Mestres de aviário, saídos do pós-PREC. Não sei quem são nem me interessa saber. Se o Sr. Arq. sabe tem agora uma boa oportunidade de o dizer. Também longe de mim pôr em causa a sua competência de arquitecto. Quem sou eu para o avaliar? O Sr. Arq. a ser avaliado deve-o ser pelos seus pares. Por isso, não vejo qualquer utilidade em colocarmos a nossa conversa no âmbito dos diplomas da Farinha Amparo.
O que eu lhe quis explicar foi que, assim como o Sr. Arq. agora me diz que eu projectei e construi edifícios sem nada perceber do assunto, o que eu lhe estava a tentar dizer é que o Sr. Arq. também emitiu opiniões sobre desenvolvimento do desporto (que é o objecto do artigo do Dr. Constantino) sem nada perceber do assunto.
Sr. Arq., deixe-me dizer-lhe com toda a sinceridade que o aspecto mais positivo dos seus comentários é que eles identificam um dos maiores senão o maior problema do desporto em Portugal. O desenvolvimento do desporto em entre nós tem estado sujeito a decisões de pessoas que se julgam no direito de ter opiniões sobre assuntos de grande complexidade por meras competências de linhagem familiar, paixão e auto-didatismo. Mas também lhe digo que o Sr. Arq. tem todo o direito de ter as opiniões que tem. Elas são muito úteis porque permitem contribuir para esclarecer muitas questões.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Caríssimos:
Qualquer plano estratégico (cujas ideias devem ser partilhadas e implementadas pela comunidade desportiva) que tenha mais do que uma página A4 não passa de mera verborreia.
Magister Dixit

Anónimo disse...

Caríssimo Dr. Constantino:
O Sr. Dr. concluiu que o potencial de crescimento do desporto nacional não atingiu o seu limite. Pedimos-lhe que nos esclareça sobre o que entende por “potencial de crescimento”. E porque é que não disse, por exemplo, “potencial de desenvolvimento”.
Magister Dixit

Anónimo disse...

A questão que o «Anónimo de 28Ago 16:19» coloca conduz a um impasse. Na medida em que é tão “indecidível” formular a proposição [do «maior» para o «menor»], como [do «menor» para o «maior»]. Esse impasse é, aliás, o da «interpretação» tanto nas atuais «ciências socais» (veja-se A.Giddens com a “dualidade da estrutura”) como o fora na matemática no início do séc. XX, sobretudo após os célebres passeios nos jardins de Princeton entre K.Godel e A.Einstein, do que resultou exatamente o conceito de “indecidibilidade” que permitiu a P.Dirac formular a tese de que toda a realidade (física) implica «tanto o [mais] como o [menos]», na origem da qual o atual CERN (ver site) foi possível.
Dizer que «muitos dão origem à excelência de poucos», ou vice-versa, é simplesmente indemonstrável excluindo uma dessas duas parcelas. Para facilitar a questão (o impasse) costuma dizer-se que [ambos têm razão].
E, se essa simplificação for [verdadeira], então é necessário tanto uma coisa como a outra.

Talvez

Anónimo disse...

A partir do texto do José Manuel Constantino, concluiu-se de uma maneira brilhante que um país não consegue ganhar medalhas olímpicas se não forem descobertos talentos excepcionais. Bem visto! Mas mesmo sendo descobertos talentos excepcionais é necessário que esses talentos sejam acompanhados. Brilhante! Parece não haver dúvidas que resultados de topo dependem exclusivamente da capacidade instalada de descoberta e acompanhamento de talentos excepcionais. Por favor: não acreditem. Este género “especialistas” geralmente tem soluções para tudo. Soluções rápidas, simples e invariavelmente erradas.

Anónimo disse...

O artigo chama a atenção sobre o conhecimento necessário para que, conscientemente, se possam tomar decisões em matéria de políticas desportivas. Por isso é salutarmente falando provocador.
Claro que a ignorância é atrevida e saíram logo a contradizer alguns senhores que nem consciência têm da sua própria ignorância. É uma situação terrível. Eles não sabem sequer aquilo que não sabem. Em consequência, fazem apelo ao “pedigree” que julgam ter por qualquer circunstância familiar.
Os comentários ao artigo do Dr. Constantino fizeram-nos vir à memória o caso de um Secretário de Estado do Desporto que resolveu promover uma determinada modalidade desportiva só porque a mãe dele tinha sido a primeira praticante da modalidade. O senhor, à custa do dinheiro público desperdiçou milhares de contos por motivos de “pedigree”.
Quando numa determinada área social as pessoas se sentem no direito de ter opiniões só por uma questão de “pedigree” está o caldo entornado.

Anónimo disse...

Talvez o melhor exemplo para debater o texto de J.M.Constantino seja o caso do futebol em Portugal.
O futebol é um caso de sucesso, e de resultados. Há vários jornais, canais pagos de TV, casas de apostas, marcas de equipamentos, e toda uma panóplia de “sinergias” que estão há muito estabelecidas. E nas quais o Estado manda muito pouco, e até lhes vai a reboque. Basta lembrar a recepção a Eusébio na década de 1960 em frente à estação do Rossio, que provocou uma manifestação espontânea de tal dimensão que não houve Regime que lhe resistisse (etc.).
Quem conhece a vida nas autarquias sabe o que ocorre com o futebol. Não há eleição que não o meta, juntamente com a Escola, os Bombeiros, a Filarmónica, a Igreja, a Rádio, o Jornal, o pequeno comércio, e as industrias que dão os empregos. Sou eleito por uma autarquia da Beira e sei o quanto pesa na sociabilidade da vida quotidiana, desde as pequenas aldeias até às freguesias mais populosas do Concelho. Isto é, nessa modalidade desportiva, já há muita “(…) sinergia entre o governo, o poder local e o movimento associativo (…)” como refere J.M.Constantino.
Numa das modalidades mais competitivas e que movimenta mais dinheiro a nível mundial Portugal ultrapassa a sua dimensão económica e demográfica. Os praticantes e treinadores portugueses são dos melhores nas melhores equipas do mundo. Ou seja, confirma que “não existe determinismo entre o valor da competitividade das nações e a sua riqueza ou poderio económico mas é um fator condicionante” (J.M.Constantino). Não será esta realidade desportiva de Portugal um “nicho de especialização” (L.Leite)? Não sei se é possível demonstrar que uma determinada população tem por uma determinada modalidade desportiva “propensão genética” (L.Leite), mas se fosse, no caso português, o futebol seria um sério candidato.
O “efeito limite” não está aí? Mesmo diante dos olhos? Isto não é o mesmo “limite” que L.Leite refere quando propõe que imitemos os “caribenhos na velocidade (Atletismo)”, “os países do leste africano (Atletismo)”, “os países à volta do Mar Negro (Halterofilismo)”, ou “os países asiáticos (Ténis-de-Mesa e Badminton)”?
Já não alcançámos aquilo que, em níveis diferentes, tanto J.M.Constantino como L.Leite propõem que seja o sucesso do Desporto Português? Quantas mais modalidades cabem nesse “limite” que J.M.Constantino «construiu» com este texto? Quais as que deviam caber, perante essa tal escassez de recursos e pouca «escala»?
Porque o futebol não entra nessas contas? Se entrasse não modificava muito o diagnóstico pessimista do sucesso/insucesso do Desporto Português?
A mudança que a Folha A4 propõe não conta para o futebol exatamente porque propõe para as outras modalidades a mesma des-Estatização que já ocorre nele.

Talvez

Anónimo disse...

Um teste de conhecimentos para o Arq. Luís Leite:
2ª Pergunta:
Roger Caillois define quatro categorias de jogo. Três delas são: competição, sorte e vertigem.
Indique a quarta categoria e explique o seu significado na dinâmica da gestão do jogo.
Tem três minutos para responder.

Nota: TALVEZ fosse bom não haver ajudas.

Luís Leite disse...

Quando defendo que os comentários deveriam ser mais "filtrados" pelos proprietários, não se trata de censura.
Trata-se sobretudo de rejeitar a má-educação.
Quando se lêem comentários de anónimos como o das 20.30h, que faz alusões a "pedigree", constata-se que se passou para além do aceitável.
"Pedigree" é relativo a cães, como qualquer pessoa minimamente culta e educada não pode desconhecer.
Portanto, das duas uma: ou se aceita o insulto como normal, ou se aceitam comentários de gente ignorante que se atreve a falar de ignorância, fugindo ao tema em debate.
Nem uma nem outra são aceitáveis.

Anónimo disse...

O conceito de “nível desportivo” de um clube, uma federação, uma região ou um país, não é simples blá, blá, blá…
É definido a partir de uma relação apropriada entre a massa e a elite de praticantes desportivos.
Magister Dixit

Luís Leite disse...

Quando se pensa em medalhas olímpicas não se pensa de todo em desenvolvimento desportivo.
São coisas diferentes.
Há países que ganham bastantes medalhas investindo apenas em nichos de propensão genética e cultural privilegiados.
Refiro-me por exemplo à Etiópia e ao Quénia (meio-fundo e fundo), à Jamaica, Bahamas e Trinidad e Tobago (velocidade), Irão (halterofilismo), etc.
Até há países que optam claramente por investir apenas nos desportos de Inverno, como está a acontecer com a Áustria.
Com isto não estou a dizer que não se deva procurar desenvolver todas as modalidades.
Digo apenas que os países menos desenvolvidos, se querem ganhar medalhas não podem pensar apenas no desenvolvimento desportivo homogéneo.
Têm que traçar objetivos seletivos:
Os tais nichos prioritários e os super-talentos.
É o que nunca fizemos em Portugal.

Anónimo disse...

O que é um blogue sem humor?
Não se deve confundir humor com ofensa. Quem não tem humor para aguentar uma piadinha mesmo a propósito o melhor é mudar de ares. Por vezes, o humor tem de ir ao limite. Como tem sido o caso. Mas pelo que nos é dado verificar o limite não foi ultrapassado.
Claro que “pedigree” é forte. Eu jamais diria que alguém tem ou não tem “pedigree”. Todavia, também compreendo que, por vezes, é a única maneira de fazer compreender o receptor da falta de pudor com que emite algumas opiniões.
Finalmente, se alguém fica ofendido por lhe dizerem que tem “pedigree” é porque não tem mesmo “pedigree” nenhum.

Luís Leite disse...

Confirmo:
Se isto é humor, não tenho pedigree nenhum.
O melhor é mesmo mudar de ares.

Anónimo disse...

Prezado «Anónimo de 29Ago2012 8:12», agora que já passou o tempo que pediu, talvez também fosse interessante debater «a diferença», sobre o mesmo, mas entre Callois e Huizinga. Concretamente, se o «comportamento lúdico» é um «produto da Sociedade» (que é a tese socio-logista e historicista; em que os seguidores são detetados quando dizem: “desporto e estruturas sociais”) ou, na tese do outro, «algo que antecede o Social» (bio-logismo e geneticismo)?
Faltam os que defendem uma perspetiva diferente destas duas, mas não interessa agora.
Talvez, para inserir este assunto no tema do “Efeito Limite” e respetivas consequências na governação desportiva, fosse interessante perceber como se liga o «Lúdico» ao «Desporto».

Talvez